Os latino-americanos
estão entre os que mais rejeitam situações de pressão, assédio, divisão injustos
de tarefas ou reprovação que possam ser consideradas como “bullying” no
ambiente de trabalho, revela um estudo realizado na França que coletou dados em
14 países ao redor do mundo.
De
acordo com a pesquisa, que entrevistou 1.484 alunos e ex-alunos de cursos de
MBA em seis continentes, a cultura do local onde uma empresa está baseada tem
uma influência direta sobre como seus funcionários tendem a aceitar ou rejeitar
"abusos" por parte de seus chefes.
"Visitas
frequentes de seu supervisor à sua mesa ou escritório, perguntas excessivas
sobre prazos, deadlines ou avaliações constantes de performance são atitudes
que podem ser abusivas, de forma sutil", diz.
Especialista
em psicologia do trabalho, Boniozelos explica que atualmente é menos frequente
que os superiores hierárquicos gritem ou ridicularizem um funcionário diante da
equipe - com exceção de alguns países asiáticos.
Ele
diz que atualmente os efeitos nocivos das atitudes dos chefes sobre as pessoas
se dão através de pressões ou comentários muito menos óbvios, e uma das razões
principais por trás da mudança é o fato de que nos últimos anos cresceu o
número de processos judiciais por assédio e dano moral no ambiente de trabalho.
Por
ser muito mais sutil, no entanto, a nova natureza dos abusos é muitas vezes
algo difícil de provar judicialmente.
"Fornecer
feedback frequente, por exemplo, dizendo repetidamente onde a pessoa poderia
ter se saído melhor, onde poderia ter tido uma performance mais elevada, acaba
destruindo a autoconfiança do funcionário. Mas é algo que aparentemente pode
não ser visto como bullying", avalia.
Como
efeito desse tipo de comportamento, os funcionários podem desenvolver quadros
de ansiedade, depressão, além de se sentirem isolados. Alguns podem até chegar
a cogitar o suicídio, dependendo do país.
Cultura local:
Os organizadores do estudo explicam que o objetivo era avaliar o grau de aceitabilidade do "bullying" no ambiente de trabalho, e não medir o número de ocorrências dos abusos.
Para
isso, os participantes foram confrontados com um questionário contendo uma
série de situações do dia a dia corporativo, tanto em empresas menores,
familiares, quanto em corporações de maiores proporções.
A
pesquisa mostrou que embora o tipo de indústria, salário, e o sexo dos
funcionários tenha influência, nada exerce maior papel sobre o grau de
aceitação de 'bullying' do que a cultura local.
Os
pesquisadores entrevistaram funcionários de diferentes empresas em 14 países:
Argentina, Austrália, Colômbia, Grã-Bretanha, Grécia, Hong Kong, Hungria,
Índia, México, Nigéria, Cingapura, Taiwan, Polônia e Estados Unidos.
Diferenças regionais
Os resultados do estudo mostraram que a América Latina é uma das regiões onde as pessoas têm menos aceitação a práticas que podem ser consideradas abusivas por parte de seus chefes.
"Basicamente
nesses países as pessoas colocam o respeito ao ser humano, suas necessidades, sensibilidades,
em primeiro lugar. Há a expectativa de que os líderes consultem seus
subordinados e tratem o grupo como uma família. O chefe que se isola no topo,
sozinho, e faz todas as decisões de forma individual, não é bem visto nessa
parte do mundo", explica Bozionelos.
Em
comparação, países como estados Unidos, Grã-Bretanha e Austrália se encontram
em um grupo no qual a alta performance é bastante valorizada, além de um senso
de urgência e de comunicação direta.
Funcionários
dessas nações tendem a aceitar algum grau de 'bullying' de seus superiores,
desde que identifiquem que tais ações contribuam para que a empresa alcance
seus objetivos.
Já
os chefes de empresas em países asiáticos, sobretudo Cingapura, Taiwan e Hong
Kong, tendem a exercer "bullying" sobre seus funcionários com
bastante frequência, incluindo gritos e ofensas, mas o comportamento é visto
como parte da cultura local.
"É
interessante perceber que um funcionário britânico pode ser alvo de bullying
assim como um asiático. No entanto, o asiático não 'sofre' tanto com as
consequências, já que isto é considerado parte da cultura. Na Grã-Bretanha, o
mecanismo não condiz com o que a pessoa acha mais certo, mas é aceito pelo bem
do resultado final, o que gera um sofrimento maior", explica.
Postar um comentário