Conviver com o trauma
O sofrimento não se encerra no assalto.
A violência deixa marcas que podem
acompanhar a vítima por toda a vida.
A violência deixa marcas que podem
acompanhar a vítima por toda a vida.
Para a vítima de assalto, o drama não termina
quando o ladrão vai embora. A imagem do revólver apontado, as feições e ameaças
do bandido, os gestos violentos e o inevitável sentimento de humilhação podem
permanecer na memória por algum tempo. É o trauma da violência. Seus sintomas
são psíquicos e até físicos. Ansiedade, dificuldade para dormir são os mais
leves. Quando a atitude dos bandidos descamba para a barbárie, são comuns
reações como taquicardia, suor, insônia, pesadelos recorrentes e medo – muito medo
de sair às ruas. Adoecida pelo trauma, a pessoa foge do convívio social e
prejudica sua rotina de vida. Leva tempo para a cura. "A ansiedade após o
trauma é natural, mesmo que o indivíduo sofra apenas um ou dois minutos de
ameaça", explica a psicóloga Lígia Ito, do Instituto de Psiquiatria do
Hospital das Clínicas de São Paulo. "A pessoa precisa ser confortada. A
solidão só piora a situação." Por mais que supere o problema, a lembrança
sempre causará desconforto.
Os traumas passaram a ser
estudados como caso de saúde nos anos 70, nos Estados Unidos, quando se notou
que os soldados voltavam do Vietnã com dificuldade para se readaptar à vida
normal. Alguns psiquiatras acreditam que existem pessoas com predisposição
genética para a doença. A eficácia da ajuda médica depende muito do próprio
paciente. Nos casos mais graves, é necessária uma combinação de terapia e
medicamentos. É fundamental motivar a pessoa e diminuir a importância do evento
gerador do trauma. Mesmo que não se esqueça do que aconteceu, o paciente para
de vislumbrar uma ameaça toda vez que defronta com a lembrança.
Quando a vítima é uma
criança, o cuidado dos pais assume importância ainda maior. O trauma pode
acabar despertando o que a psicanálise chama de angústias primitivas. É um
sentimento avassalador. Dependendo da constituição psíquica da criança, provoca
também dificuldade de aprendizado, concentração, sono e distúrbios de
alimentação. "É importante ficar atento às reações da criança, ouvir o que
ela diz e ver como brinca e se relaciona", afirma a psicanalista Tânia
Leão Pedrozo, da Sociedade Psicanalítica do Rio de Janeiro. Mas há que ter
limites. "Não superproteja seu filho", diz Tânia. "Isso não
resolve o problema e vai deixá-lo ainda mais inseguro."
RECONHEÇA
O PROBLEMA
O diagnóstico de stress pós-traumático exige a
aplicação de questionário detalhado por um médico. A avaliação depende da frequência
e da intensidade dos sintomas. Na lista de questões abaixo, elaborada com a
consultoria da psicóloga Lígia Ito, você pode verificar se existem indicações
de que esteja sofrendo desse mal. Caso responda afirmativamente à maioria das
perguntas, procure um especialista.
Você se lembra frequentemente
da violência que viveu?
Sente às vezes que está
revivendo o episódio?
Passou a sofrer de
insônia?
Sente que se irrita com
mais frequência?
Assusta-se com maior
facilidade?
Ficou mais vigilante no
cotidiano?
Está com dificuldade de concentração?
Tem sensação de falta de
esperança e de perspectivas?
Você se esforça para não
lembrar o fato?
Sente-se mais deprimido ou
ansioso?
Tem sentimento de culpa?
Está com sensação de medo
exagerado?
Percebeu diminuição da
afetividade e do interesse por
atividades corriqueiras?
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