"O sonho dela era ser médica", diz vizinha de menina estuprada
e morta na Rocinha.
A menina Rebeca Miranda
Carvalho dos Santos, 9, que foi estuprada e assassinada na favela da Rocinha,
na zona sul do Rio de Janeiro, na noite de sábado (28), tinha o sonho de ser
médica, segundo a dona de casa Antônia Gomes Pontes, 37, vizinha da família.
"Ela era uma criança alegre. O sonho dela era ser médica", disse.
Antônia compareceu na
tarde desta segunda-feira (30) à Divisão de Homicídios da Polícia Civil do Rio,
onde prestará depoimento. A testemunha estava na festa infantil, em uma
localidade da Rocinha conhecida como Cachopa, próxima a um posto da UPP
(Unidade de Polícia Pacificadora), na qual Rebeca foi vista pela última vez
antes de desaparecer.
"Ela saiu da festa
para levar bolo para a mãe, que estava em uma birosca perto da casa. Ela passou
por um beco totalmente escuro, onde tem um terreno baldio, deixou o bolo com a
mãe e voltou pelo mesmo caminho. Foi ali que pegaram ela", descreveu a
moradora da Rocinha.
A filha de Antônia, A.,
13, estava na mesma festa no dia do crime. Ela e Rebeca eram amigas de
infância, estudaram e e costumavam brincar juntas. "Poderia ser a minha
fiha ali também. Ele não queria só a Rebeca. Poderia ser qualquer criança que
estivesse passando ali naquele momento", disse.
Antônia relatou ter
saído da festa às 22h30, e nesse horário Rebeca ainda estava na laje onde
ocorria a comemoração do aniversário de 1 ano da filha de uma amiga em comum.
"Ela ficou lá com a minha filha de 13 anos e com as amiguinhas. (...) Todo
dia ela estava junto com a gente. Ela era muito querida por todos",
declarou.
Por volta de 0h, o irmão
mais velho de Rebeca procurou Antônia em sua casa para perguntar sobre o
paradeiro da menina. Ao ser informada sobre o sumiço, a dona de casa passou a
circular pelas ruas, becos e vielas da comunidade, na companhia do irmão da
vítima, em busca dela.
"Procuramos até as 2h, mas não
achamos nenhum vestígio. Outras pessoas ficaram procurando até de manhã. Quando
deu 7h, me avisaram que o corpo tinha sido encontrado. (...) Antes do enterro,
tiveram que colocar uma faixa na cabeça dela, pois bateram tanto que o sangue
escorria pelo cabelo. A língua dela estava para fora. Foi uma coisa
horrível", relatou.
Assassinada por esganadura
A DH confirmou nesta segunda-feira
(30) que Rebeca foi estuprada antes de ser assassinada por esganadura na favela
da Rocinha.
O corpo da vítima foi encontrado na
manhã de domingo (29) na Cachopa, onde há um posto da UPP. Uma perícia foi
realizada no local, e sete testemunhas foram ouvidas até o início da tarde
desta segunda-feira.
Segundo o chefe de operações da
delegacia, Rafael Rangel, o abuso sexual foi constatado em laudo do IML
(Instituto Médico-Legal). O policial também afirmou que a UPP da Rocinha
encaminhou ao ICCE (Instituto de Criminalística Carlos Éboli) cópia do conteúdo
das câmeras de segurança da favela.
As imagens podem mostrar uma eventual
movimentação suspeita no dia do crime, de acordo com o chefe de operações.
"A UPP reservou essas imagens e elas já estão sendo analisadas. Não existe
um prazo para que isso ocorra. Temos 30 dias para concluir o inquérito",
disse.
A mãe da criança, Maria Miranda de
Mesquita, foi ouvida no dia do registro do boletim de ocorrência, mas não
conseguiu dar informações concretas em razão do choque emocional. Ela deve
prestar novo depoimento durante a semana.
Os investigadores também trabalham
para identificar novas testemunhas. No domingo, um menino --cuja idade não foi
informada-- afirmou à polícia ter visto um homem vestido com um casaco na
companhia de Rebeca pouco antes do desaparecimento. O depoente seria morador da
Rocinha e também estava na festa.
"Não podemos entrar em detalhes.
Os depoimentos de menores são sempre vistos com reserva. Esse menino foi ouvido
por dois psicólogos", disse Rangel.
Crime 'extremamente brutal'
O delegado-assistente da Divisão de
Homicídios, Henrique Damasceno, afirmou que o assassinato de Rebeca foi um
"crime gravíssimo e extremamente brutal". Ele disse contar com o
apoio dos moradores da Rocinha, em especial através do Disque-Denúncia, e com a
cooperação dos policiais militares da UPP da comunidade.
"Desde que houve a comunicação
da ocorrência, todos os esforços da DH estão voltados para esse crime
gravíssimo e extremamente brutal contra uma criança. Estamos empenhando todos
os esforços possíveis para encontrar o autor desse crime", afirmou.
"Vamos fazer uso de todos os recursos possíveis: desde imagens, a questão
do Disque-Denúncia, a entrevista com os moradores e as diligências em
campo."
Damasceno disse ainda que os detalhes
sobre a investigação não podem ser divulgados em função das circunstâncias do
crime, uma vez que há crianças entre as testemunhas que já foram ou ainda serão
ouvidas pela polícia. O conteúdo dos depoimentos também não foi informado.
Enterro
A menina foi enterrada no cemitério
São João Batista, em Botafogo, zona sul. O pai da menina, Reinaldo dos Santos,
disse estar inconsolável. "Peço a Deus que me dê força e coragem para
lutar e criar meu outro filho. Para fazer dele um guerreiro como ela era. Os
dois viviam juntos e se davam muito bem", afirmou, ao falar sobre o filho
de 12 anos, também chamado Reinaldo.
Parentes e amigos que acompanharam o
enterro contaram que Rebeca foi encontrada vestindo apenas uma camiseta e que
próximo ao corpo dela havia saquinhos de droga, uma camisinha e um pedaço de
madeira com pregos. Todo o material foi recolhido pela perícia.
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